Cultivares ou variedades de plantas de diferentes espécies vegetais destinam-se à produção agrícola e resultam de programas de melhoramento vegetal conduzidos pela pesquisa pública e/ou privada. Os programas de melhoramento vegetal são de longa duração, sendo que a obtenção de uma cultivar leva de oito a 12 anos, para espécies anuais, e de 20 a 30 anos, para espécies perenes (fruteiras, videiras e florestais).
Desde os primórdios da agricultura, o homem buscou melhorar “as sementes” que utilizava. Sementes melhoradas tiveram e ainda continuam a ter, papel da maior relevância para agricultura em todas as partes do mundo. Pesquisadores brasileiros há muitos anos trabalham com o melhoramento genético das principais espécies cultivadas. O Brasil, país de dimensão continental, caracteriza-se por uma enorme variabilidade, especialmente de solo e clima. Esta variabilidade exige que se desenvolva cultivares das diferentes espécies adaptadas aos diferentes ambientes. Assim, é possível cultivar soja no Rio Grande do Sul, em Mato Grosso, no Maranhão, na Bahia e em Roraima. Graças aos trabalhos de pesquisa desenvolvidos no Brasil, uma espécie que tem como centro de origem a China, a exemplo da soja, hoje pode ser cultivada na maior parte do país, obtendo-se nas diversas regiões, produtividades excelentes.
O trabalho de pesquisa desenvolvido no Brasil, além de proporcionar a obtenção de cultivares, adaptadas às mais variadas condições de clima e solo, incorporou tolerância e resistência a pragas e doenças, permitindo assim cultivos em ambientes os mais diversos possíveis. Graças ao avanço do conhecimento já dispomos de cultivares com características diversas, por exemplo, tolerantes a herbicidas, a pragas, a doenças e a nematoides, que produzem fibra com diferentes tonalidades e com ciclos diferentes. As cultivares de soja BRS 511 é tolerante à ferrugem asiática e a BRS 543 a percevejos, ambas desenvolvidas pela Embrapa.
Se analisarmos a relação das cultivares de soja, de milho e algodoeiro indicadas para cultivo na safra 2019/2020 no Estado de Mato Grosso do Sul, vamos constatar que são quase 50 cultivares de algodoeiro e mais de 600 de soja e milho. O número elevado de cultivares possibilita ao agricultor identificar aquelas que melhor se adaptam à sua realidade.
Se por um lado, o aumento na oferta de cultivares e híbridos é bom, por outro, exige que se tenha mais informações sobre eles. A assistência técnica tem papel relevante para auxiliar o agricultor a escolher a cultivar mais adequada para suas condições. Talvez, aqui caiba uma observação: a escolha errada de uma cultivar ou híbrido pode ser causa de insucesso de um determinado empreendimento agrícola. Temos exemplos disso no Brasil. Assim, cada vez mais, são necessários estudos regionalizados para que o produtor possa conhecer o comportamento de uma cultivar em ambientes mais semelhantes ao seu, o que aumenta significativamente a probabilidade de se obter sucesso.
Outras informações que são extremamente importantes para que uma cultivar possa exteriorizar todo o seu potencial produtivo como, exigências nutricionais, época de semeadura, população de plantas, reação a pragas, doenças e nematoides, dentre outras características, são de responsabilidade das instituições que desenvolveram a cultivar. É sempre recomendável que o agricultor utilize mais de uma cultivar, com alguma diferença entre elas, especialmente no que se refere ao ciclo, isto minimiza os riscos, por exemplo, de uma estiagem. Em resumo: boa parte do sucesso de um empreendimento agrícola depende da escolha correta da cultivar ou hibrido. A cultivar ou híbrido, de forma isolada, não é capaz de suplantar todas as limitações impostas pelo ambiente, por isso é fundamental o conhecimento sobre as diferenças entre as cultivares disponíveis no mercado.
Fernando Mendes Lamas
fernando.lamas@embrapa.br
Pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste
Fonte: AGROLINK