Por Lars Edwin Schobinger, Engenheiro Agônomo, CEO e Sócio Fundador da Blink – Consultoria de inteligência e estratégia para o agronegócio, e Consultor da Associação Brasileira dos Produtores de Sementes de Soja - ABRASS.
A semente sempre foi para o produtor o mais nobre de todos os insumos. É nela que o sojicultor deposita toda sua expectativa, sua esperança até, de uma safra ímpar. É ela que nos faz, como nação, galgar um incremento médio anual de produtividade por hectare da ordem de uma saca adicional, ano após ano, há mais de três décadas. Prova maior de tecnologia não se faz necessária. Mas o tema é quase inesgotável e fascinante.
A semente só faz ampliar seu papel dentro do processo produtivo. Além da evolução, via o melhoramento genético, que nos traz produtividade, estabilidade e rusticidade, a semente é cada vez mais veículo de tecnologia no manejo. Duas são as vertentes maiores: a biotecnologia e o tratamento de sementes.
A história da biotecnologia no Brasil começou torta, sôfrega. Entra pela porta dos fundos, de forma ilegal, mas quem há de contestar, muito legítima. Em 2003 se corrigiu esse erro histórico e entramos oficialmente na era biotecnológica com o advento da soja resistente ao herbicida glifosato. Foi um grande sucesso. Rápido e contundente, é adotada hoje em mais de 90% de nossa área de soja. O termo inglês trait virou rotina no vocabulário do campo. Seguiu-se o advento do controle de lagartas, via uma série de proteínas denominadas Cry, oriundas de uma bactéria, o bacillus thuringiensis. Outro grande sucesso, mais um conceito difundido. O tal “estaqueamento”, soluções empilhadas na mesma semente: duas traits adicionadas na mesma semente elevaram o patamar tecnológico disponível para os produtores de Norte a Sul.
Nos próximos anos diversas outras tecnologias entrarão nesse sistema. Empilhamentos duplos, triplos, quádruplos. Algo impensável poucos anos atrás. Novas soluções de herbicidas, não uma ou duas. Mais de cinco já apontam no horizonte. E muito mais. Soluções contra percevejos, nematoides e ferrugem são algumas frentes. A semente, sozinha, gerará cada vez mais benefícios, mais valor no campo.
Tanto valor exige o máximo de zelo. O tratamento de semente, um conceito simples, até antigo, vem sofisticando. Quatro, cinco, até seis produtos via semente é algo cada vez mais frequente. Vigor e poder germinativo buscando o melhor stand. Lavoura alguma fecha bem se não começar muito bem. O mercado segue ávido por sementes certificadas de altíssima qualidade. E isso se atinge com um coquetel tecnológico. Um fungicida, um ou dois inseticidas, um nematicida, um enraizador. Tudo em um grão de 150 miligramas, que carrega toda expectativa de resultado de um ano inteiro de trabalho árduo. A solução do tratamento industrial se fez necessário para garantir embarcar toda essa ciência com propriedade. Hoje 30% da soja plantada no Brasil já chega tratada no campo. Garantia de qualidade, garantia de resultado.
Na próxima década a semente será o maior epicentro tecnológico na produção de soja. Considerando o germoplasma, a biotecnologia e o tratamento de sementes, teremos um conceito 10 em 1. Dez soluções em um veículo, a semente. Evidente o enorme valor em uso proporcionado. E sem elevar o custo total para se produzir dezenas de sacos de soja em um hectare. O valor investido pelo sojicultor, apesar de migrar lentamente para a semente, não se eleva no total. E com uma menor necessidade de entradas na lavoura. Menos estresse, menos risco, mais tranquilidade. Benefícios intangíveis, mas muito valiosos.
Fonte: Abrass e consultoria - publicado na Revista Seednews.