Estudo mostra que apesar da distribuição de sementes ser uma operação realizada em grande parte de maneira satisfatória, há ainda necessidade de monitoramento da operação de semeadura para identificação de fontes de variabilidade intrínsecas ao processo, a fim de reduzir os espaçamentos falhos e melhorar a qualidade da distribuição.

O Brasil deve colher na safra atual, uma produção de 234,4 milhões de toneladas de grãos, com aumento de 25,6% em relação à safra passada. A soja deve ter uma produção de 113,9 milhões de toneladas. Os ganhos de produção da cultura refletem num aumento de 19,4% na produção total (Conab, 2017).

Esse crescimento se deve a técnicas de manejo do solo como o plantio direto, que consiste em um manejo homogêneo que visa à melhoria da qualidade do solo e, consequentemente, manter ou elevar a produtividade da cultura a níveis satisfatórios. Todavia, esta melhoria não se manifesta de forma homogênea em toda a área, sendo que em uma mesma lavoura pode haver subáreas com distintas qualidades de solo e potencial produtivo, o que implica variabilidade na produtividade da cultura (Amado et al, 2005).

A variabilidade espacial ou a heterogeneidade da produtividade de grãos pode estar associada a uma série de fatores que interagem de forma complexa e condicionam a expressão da cultura. O estudo da variabilidade espacial de atributos de solo e de planta e da produtividade da cultura é fundamental para o entendimento dos fatores que determinam a expressão do potencial produtivo da cultura e sua variabilidade em uma área agrícola, o que pode levar ao desenvolvimento de práticas de manejo sítio-específicas, visando à maximização do potencial produtivo em diferentes zonas da lavoura (Vian et al, 2016).

Neste contexto, ferramentas de agricultura de precisão devem ser utilizadas para a busca de informações no campo, seja pela utilização de sensores agronômicos, seja pela utilização de malhas amostrais de solos e/ou componentes agronômicos da cultura, a fim de otimizar os processos agrícolas e elevar o rendimento agrícola (Soares Filho & Cunha, 2015).

Aliado a isso, o uso de ferramentas de qualidade do processo, como o controle estatístico de qualidade, vem sendo de grande valia em processos agrícolas para verificar a estabilidade do processo em função de limites pré-especificados, auxiliando o monitoramento e o controle das fontes de variabilidade (Voltarelli et al, 2015; Arcoverde et al, 2016).

Portanto, objetivou-se mapear a qualidade da semeadura da cultura da soja em uma área comercial, analisando o estande de plantas e a distribuição longitudinal, utilizando como ferramentas a estatística descritiva e a geoestatística.

O trabalho foi conduzido em uma área comercial da Fazenda São Bento no município de Itaporã (MS), cujos formato e espacialização da altitude são apresentados na Figura 1. O local situa-se em latitude W 54 07´ 01" e longitude de S 22 01´ 06". O clima é do tipo (CWa), segundo a classificação de Köppen, e o solo da área é um Latossolo vermelho distroférrico e tendo avaliação em estágio v2.

Figura 1 - Talhão utilizado e altitude da área (m)

A variedade semeada foi uma semente de soja Monsoy 6410, com 98% de pureza e 92% de germinação mínima. Na área em questão se utiliza plantio direto há 12 anos, a semeadora utilizada é da marca Semeato, modelo FastFil de 30 linhas espaçadas por 60cm, que utiliza de sistema pneumático e tem distribuição de 16 sementes por metro linear.

A área analisada possui 132 hectares e foi dividida em 71 parcelas (pontos), denominadas ponto amostral (PA), conforme caracterizado na Figura 2.

Figura 2 - Mapa da área e pontos amostrais

O georreferenciamento dos pontos amostrais para a análise de uniformidade de semeadura foi realizado pela utilização do aplicativo de GNSS disponível para o sistema operacional Android, utilizando coordenadas métricas (UTM WGS84).

A distribuição de pontos amostrais para as análises de uniformidade de semeadura e coleta de amostras de solo foi feita em grade regular com 200 metros entre células. Esta grade regular com as respectivas coordenadas foi inserida no receptor, os pontos foram localizados na área a ser estudada e foi feita a identificação das linhas de semeadura. Em cada ponto foram analisadas três linhas de semeadura, cada uma com dois metros consecutivos.

Foram coletadas amostras do número de plântulas de soja emergidas em estágio V2, dois metros consecutivos e em três linhas em cada ponto amostral.

Na avaliação de distribuição longitudinal ou uniformidade de espaçamentos entre plântulas foi utilizada uma trena. A porcentagem de espaçamentos normais, falhos e duplos foi obtida de acordo com as normas da ABNT (1984) e Kurachi et al (1989), considerando-se porcentagens de espaçamentos: "duplos" (D): <0,5 vez o Xref. espaçamento de referência; “normais" (A): 0,51,5 o Xref.

Inicialmente, os dados foram analisados por meio da estatística descritiva e depois, para a verificação da dependência espacial, interpolação dos dados e construção de mapas foi empregada a análise geoestatística.

Resultados

Para o estande de plantas observa-se que a média e a mediana encontram-se próximas, bem como baixos valores do coeficiente de variação (CV) (Quadro 1). No entanto, apesar da baixa variação, este componente condiciona a produtividade da cultura, em função da distribuição uniforme de plantas na área (Sangoi et al, 2012; Vian et al, 2016). 

Para as variáveis relacionadas à distribuição longitudinal (Quadro 1), observou-se  que os espaçamentos, falhos e duplos, apresentaram média e mediana relativamente próximas, porém, com elevados CV. No entanto, para espaçamento normal observaram-se baixos índices de CV. A baixa variabilidade entre espaçamentos é comum para a semeadura na cultura da soja, o que se observa o contrário em valores obtidos para distribuição longitudinal de plantas na cultura de milho (Santos et al, 2011; Arcoverde et al, 2016).

Verificou-se para a variabilidade do estande (Figura 3), com predomínio das faixas de 12 e 13 plantas me 13 e 14 plantas/m, que ocuparam pouco mais de 70% da área, tendo que o desejado seria de 15 plantas.

Figura 3 - Mapeamento do estande de plantas por metro

Quanto à distribuição dos espaçamentos normais, há maior predominância das faixas compreendidas entre 73% e 83% (Figura 4), em mais de 85% da área, o que para uma semeadora-adubadora pneumática representa desempenho aceitável.

Figura 4 - Espacialização da distribuição longitudinal para espaçamentos normais (%)

Ressalta-se o predomínio de faixas de porcentagem de espaçamentos falhos entre 10% e 20% em mais de 85% da área (Figura 5A) e, de modo menos representativo, a distribuição de espaçamentos duplos com predomínio das faixas abaixo de 10% em 85% da área (Figura 5B). Desta forma, devem-se verificar os pontos operacionais relacionados ao aumento dos espaçamentos falhos, a fim de aumentar o estande de plantas e o percentual de espaçamentos normais correspondente à regulagem de distribuição de sementes pela semeadora-adubadora.

Figura 5 - Mapas da distribuição longitudinal (A – falho; B - duplo)

Esse resultado evidencia a necessidade de acompanhamento e monitoramento da operação, visando a identificação e o controle de pontos que reduzem a qualidade do processo agrícola, tais como disco e/ou anel inadequado para a peneira do híbrido, pressão imprópria no sistema pneumático, falta ou excesso de grafite, tratamento de sementes com elevada abrasividade, posicionamento das sementes dentro do sulco, ataque de pragas, contato solo-semente dificultado pela quantidade de palha no sistema de semeadura direta, umidade do solo inadequada para semeadura, abertura e fechamento do sulco (Weirich Neto et al, 2015).

Conclusões

O estande de plantas e a distribuição de espaçamentos normais foram considerados bons, mas não excelentes para uma semeadora pneumática.

O estande de plantas e a distribuição longitudinal dos espaçamentos normais, falhos e duplos para a soja apresentaram dependência espacial.

Existe necessidade de monitoramento da operação de semeadura para identificação de fontes de variabilidade intrínsecas ao processo, a fim de reduzir os espaçamentos falhos e melhorar a qualidade da distribuição.

Mateus Augusto Estevão, Jorge Wilson Cortez, Sálvio Napoleão Soares Arcoverde, Anamari Viegas de Araújo Motomyia, Maiara Pusch, UFGD

Artigo publicado na edição 175 da Cultivar Máquina

Fonte: Revista Cultivar.