Amélio Dall’Agnol e Ademir Assis Henning, pesquisadores da Embrapa Soja
O fungo mais conhecido como causador dessas doenças é Cercospora kikuchii, mas recentemente foram identificadas outras espécies e linhagens do gênero Cercospora associadas a essas doenças.
O crestamento foliar de Cercospora e a mancha-púrpura da semente ocorrem em todas as regiões produtoras de soja do País. Os sintomas podem ocorrer em folhas, pecíolos, hastes, vagens e sementes. Nas folhas, os sintomas se manifestam por manchas castanho-avermelhadas de formato irregular. Sintomas de crestamento foliar ocorrem pela formação da toxina dependente da luz (cercosporina) produzida pelo fungo, que faz com que as células vegetais se rompam e morram, podendo levar a desfolha prematura das plantas. As sementes são atingidas pelo fungo pela infecção da vagem, causando manchas púrpuras no tegumento.
Sintoma de crestamento foliar de Cercospora em folha de soja. Foto: Rafael Moreira Soares.
Essa doença faz parte do complexo de doenças de final de ciclo (DFC), que inclui, além do crestamento, a mancha-parda causada por Septoria glycines. Quando os sintomas dessas doenças ocorrem simultaneamente, é difícil identificar “quem é quem”, por isso os danos são avaliados no conjunto. A doença é mais severa em anos chuvosos e com temperaturas amenas. O fungo é favorecido por temperaturas na faixa de 23 °C a 27 °C. Sobrevive em sementes e restos de cultura.
Para evitar a introdução do fungo na lavoura deve-se utilizar sementes livres do patógeno e tratadas com fungicidas de ação sistêmica e de contato. Se há histórico da doença na lavoura é recomendado que seja feita a rotação da soja com espécies de plantas não hospedeiras.
Até a safra 2000/2001 (antes da ocorrência da ferrugem-asiática no Brasil), recomendava-se o controle químico do crestamento (e também da mancha-parda) a partir da fase de enchimento de grãos (R5). A partir da safra 2001/2002 a doença passou a ser controlada com as aplicações de fungicidas para o controle da ferrugem-asiática. Importante destacar que já foram relatados isolados de C. kikuchii, obtidos de plantas e sementes de diferentes regiões produtoras, com resistência completa a fungicidas inibidores de quinona externa (IQe – “estrobilurinas”) e metil benzimidazol carbamatos (MBC – “benzimidazóis”), resultando em baixa eficiência de fungicidas com esses modos de ação nas aplicações.
Estudos mostram que o fungo não tem efeito negativo sobre a qualidade da semente, mesmo com elevados índices de infecção (até acima de 60%), quando a semente possui boa qualidade fisiológica (mínimo de danos mecânicos, deterioração por umidade ou danos de percevejo).
Fonte: Blog da Embrapa/ Canal Rural