Após o fechamento do maluco ano de 2020, os produtores de soja estão atentos às oportunidades que 2021 pode trazer. Com mais de 60% da safra 2020/2021 já negociada antecipadamente, muitos querem saber se terão bons preços para negociar a safra que irão colher. Para ajudar nessa tarefa o Projeto Soja Brasil conversou com o analista da consultoria Safras & Mercado, Luiz Fernando Gutierrez.


Inicialmente, Gutierrez ressaltou que os preços da soja serão basicamente influenciados por três fatores principais: a alta demanda mundial por soja, puxada pela China; os baixos estoques e a produção menor do que o esperado nos Estados Unidos; e por fim, a safra de soja na América Latina, que pode ter quebra no Brasil e na Argentina.


“Com isso tudo esperamos uma firmeza nas cotações da soja na Bolsa de Chicago. Aposto que podemos esquecer o patamar de US$ 10 por bushel de soja. Se bobear, durante todo 2021 teremos valores maiores. Essa firmeza importante em Chicago se deve a forte demanda chinesa, estoques baixos nos EUA e dúvidas em relação à safra de soja da América Latina”, afirma ele.


Problemas nos EUA

Um dos fatores que tem um grande peso nos preços para o ano é a safra de soja colhida pelos Estados Unidos e os estoques que atingiram um patamar baixo.


“Os Estados Unidos tiveram uma safra menor que a esperada inicialmente e os estoques finais devem ficar abaixo dos 5 milhões de toneladas, ou seja, o menor estoque das últimas cinco ou seis safras. Isso ajuda a manter as cotações elevadas”, afirma Gutierrez.

Brasil e Argentina


A questão climática que afeta tanto o Brasil, quanto a Argentina também é um fator que traz firmeza para as cotações na Bolsa de Chicago, afirma o analista.


“A safra de soja 2020/2021 está passando por alguns problemas e nada está definido ainda no Brasil. As lavouras precisam de chuvas mais regulares nas próximas semanas para se desenvolverem adequadamente. Alguns municípios no Centro-Oeste e Sudeste apresentam problemas em relação ao clima, mas no final das contas há boa chance de parte deles terem uma safra boa ainda”, comenta.


Mas nem tudo é otimismo, já que a região Sul do país pode ter problemas pela terceira safra seguida (2018/2019 foi o Paraná e 2019/2020 o Rio Grande do Sul).


“A grande dúvida é em relação à região Sul, principalmente no Rio Grande do Sul, que tem enfrentado um clima seco e chuvas irregulares e as previsões não são tão positivas para os próximos meses”, afirma Gutierrez. “Em resumo, se o clima colaborar, daqui para frente, o Brasil pode colher uma safra de soja acima de 130 milhões de toneladas.”


Preços no Brasil

Com a perspectiva de que os preços da soja na Bolsa de Chicago seguirão elevados em 2021, Gutierrez aposta em bons valores no Brasil também.


“Os preços devem seguir firmes no Brasil neste ano também, mas não acredito que vamos repetir os patamares que vimos em 2020, quando chegou a R$ 180 por saca nos portos. Isso foi uma distorção maluca. Mas devemos voltar para uma normalidade.”, afirma Gutierrez.

Segundo o analista, o dólar terá papel importante nos preços, pois se cair, os preços tendem a recuam um pouco no país.
“O mercado espera que o dólar fique um pouco mais fraco em 2021, o que pode afetar a formação de preços no Brasil, mas há chance de Chicago compensar em partes. Não acho que veremos o dólar chegar nos R$ 4, mas possivelmente ficará abaixo de R$ 5. No Brasil será preciso aprovar algumas reformas para que o dólar caia, caso contrário não terá força para isso”, diz Gutierrez.


Exportações e demanda da China


Para finalizar as expectativas, o analista da Safras & Mercado acredita que 2021 será marcado por boas exportações do Brasil, ainda sob influência da forte demanda da China.

“A China segue com forte apetite pela soja. Eles devem comprar um pouco mais dos Estados Unidos, ainda seguindo o acordo, mas isso não será um problema para o Brasil. As exportações brasileiras devem seguir fortes neste ano e se colhermos bem, podemos ter um leve alívio nos estoques”, finaliza.


Por: Daniel Popov
Fonte: Canal Rural