O setor de defensivos agrícolas no Brasil ainda não sentiu os impactos da pandemia da Covid-19. As indústrias anteciparam as compras de matéria-prima, que vem principalmente da China, e aceleraram o processo de produção para garantir o abastecimento de produtos para os agricultores. No entanto, de acordo com o presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg), Júlio Borges Garcia, o setor não está livre dos reflexos da crise e há uma preocupação para os próximos meses.

Com o dólar operando em alta histórica, distribuidores, cooperativas e grandes agricultores anteciparam as compras para evitar preços mais altos. A estimativa é que 50% das vendas já estão fechadas para a próxima safra.

Segundo Garcia, porém, os valores atuais da moeda americana ainda não foram repassados ao consumidor final. Cerca de 90% da matéria-prima dos produtos é importada, de modo que a conta da alta do dólar deve chegar em breve.

“O câmbio não foi repassado porque o agricultor utilizou o produto que já tinha em estoque em novembro e dezembro. Quando o agricultor não tinha estoque, o distribuidor já tinha comprado e, quando não, nós já tínhamos acordado o preço para eles em janeiro e fevereiro com o câmbio inferior. Então, essa percepção de que não vai haver ou que não houve um impacto se deve muito mais ao estoque que estava em campo do que para as compras futuras”, disse o presidente do Sindiveg.

Mercado

Outro impacto causado pela alta do dólar é que as indústrias vão precisar de financiamentos maiores para se manter no mercado. De acordo com levantamento do sindicato, as empresas do ramo de defensivos agrícolas no Brasil financiam cerca de R$ 21 bilhões por ano. “É um valor extremamente alto e nós estimamos que será necessário um aumento de 4% a 5% no uso de químicos neste ano, então, se nós somarmos a isso a variação cambial, será necessário de 25% a 30% a mais de capital de giro neste ano para servir o agricultor”.

Logística

Segundo Júlio Borges Garcia, por enquanto, nenhuma unidade teve as atividades paralisadas, mas as empresas do ramo estão em alerta com a pandemia que pode ter uma proporção ainda maior no Brasil. “Ainda não chegou no pico e nós não sabemos quando vai chegar. Todas as indústrias tentaram se antecipar, mas não houve tempo de ação. Nós estamos nos esforçando para fazer o que é possível, mas ao mesmo tempo proteger todos os colaboradores da indústria e agir com segurança”, comentou.

Entre junho e setembro aumenta o uso de defensivos nas lavouras de grãos no país. Um dos principais gargalos nesse período devem ser as entregas de produtos, já que a rotina pós-pandemia ainda não deverá estar normalizada.

Desafios do setor

Um dos principais desafios para as indústrias de defensivos agrícolas é desenvolver produtos específicos para cada região produtora. Com o clima tropical do Brasil, as pragas, doenças e ervas daninhas estão cada vez mais resistentes.

Segundo dados da entidade, no primeiro trimestre de 2020, a ferrugem asiática e o percevejo foram os principais inimigos da soja. No milho, os percevejos também deram trabalho, juntamente com as lagartas. No caso da cana-de-açúcar, as maiores preocupações foram as ervas resistentes a braquiárias e as cigarrinhas. No café, o bicho mineiro preocupou o cafeicultor. Já para a cultura do algodão, os bicudos continuam sendo o maior desafio no controle da produtividade.

A pesquisa revela ainda que houve um aumento de 7,3% na área tratada com defensivos agrícolas, em comparação ao mesmo período do ano passado. O crescimento em toneladas de produtos aplicados foi de 7,5%, atingindo 346 mil toneladas em 2020, contra 322 mil toneladas em 2019. Juntos, soja, milho, cana, algodão e café representaram cerca de 90% da utilização dos produtos.

Fonte: Canal Rural